O Templo e as duas Testemunhas

Muitos preteristas afirmam haver uma razão principal no Apocalipse provando que a redação de todo o Livro estava pronta antes de 70 dC. Eles argumentam que desde que João se refere a um templo em Jerusalém (Ap 11:1-2), então este deve ter estado de pé no momento da escrita. Se ainda está de pé, concluem então que o Apocalipse foi redigido antes da destruição do templo em 70 dC.

O Templo em Apocalipse 11

A João é ordenado pelo anjo que o acompanha durante a visão: “mede o templo” (Ap 11:1). Ezequiel, durante uma visão semelhante de um templo (Ez 40-48) foi-lhe ordenado também que o medisse. No entanto, nessa ocasião nem havia um templo em Jerusalém.

Ezequiel viu um templo em suas visões proféticas, mas suas visões ocorrem durante os anos de cativeiro babilônico, após o templo de Salomão ter sido destruído por Nabucodonosor. Muitos dos que retornaram após o cativeiro de 70 anos para reconstruir o templo nunca tinham visto o templo de Salomão, ou observados seus rituais. Sua familiaridade com o templo foi baseada unicamente na Torá e pergaminhos como Ezequiel e Daniel.

A João foi dito em sua visão para “medir o Templo e os que nele adoram”; isso não aparenta nenhuma indicação de que o templo ainda estava de pé em Jerusalém.

Esta visão profética é claramente paralela a visão de Ezequiel. Ezequiel recebeu sua visão durante o cativeiro da Babilônia, quatorze anos após Nabucodonosor saquear Jerusalém e destruir o templo. No entanto, em sua visão, Ezequiel foi levado para Jerusalém, onde lhe foi mostrado um templo glorioso muito maior do que o templo de Salomão, e passou ele a gravar todas as medições deste templo em grande detalhe.

João viu a sua visão profética do templo durante o reinado de Domiciano (AD 81-96). Nós não sabemos exatamente quando, durante seu reinado, ele foi exilado, nem quanto tempo antes de sua libertação ele escreveu Apocalipse, ou se foi depois. Mas, o período de tempo possível cobre qualquer coisa entre 20-25 anos após a destruição do templo por Tito.

Para aqueles que gostariam de interpretar as visões literalmente, também acharão recursos para isso. Se a visão do templo de Ezequiel foi claramente destinada a indicar um futuro templo reconstruído, logo, segundo muitos, a visão de João sobre o templo de Jerusalém deve ser visto da mesma maneira, sendo uma indicação de que um templo será realmente reconstruído em Jerusalém antes da Vinda do Senhor, como muitos estudiosos da escatologia afirmam. Eu tenho minhas dúvidas.

Contrariamente à alegação de que a visão de João indicava que o templo de Herodes ainda estava de pé, basta comparar com o relato paralelo em Ezequiel, onde parece óbvio que as profecias de medir o templo por João foram dadas a ele pouco depois do templo de Jerusalém haver sido destruído. O primeiro nos dias de Ezequiel por Nabucodonosor e os babilônios, e o segundo nos dias de João por Tito e os romanos.

Assim, não há sentido algum na interpretação preterista, que só porque um templo é referenciado em Apocalipse 11, deva implicar que o Templo construído por Herodes estivesse totalmente em pé com toda sua glória.

Daniel também faz referência a um templo (Daniel 8:11-14; 9:27; 11:31: 12:11), no entanto, como foi visto, a informação cronológica revelada nestes livros leva à conclusão de que esses profetas, do exílio, tiveram suas visões durante uma época em que não havia nenhum templo construído.

Mesmo diante de todas as evidências contrárias a sua interpretação, o preterista tem a visão deste templo como sendo o segundo templo de Herodes, que teria estado em pé nos dias da escrita apocalíptica de João.

Outro detalhe é que o exército romano avançou sobre Jerusalém de leste a oeste. A cidade caiu após um cerco prolongado. O general Tito não colocou uma “abominação da desolação” (Mt 24:15) no templo. Ao contrário, ele destruiu o templo o queimando até o chão. Logo, a referência de Jesus não se cumpriu em 70 dC. Porém, há algo curioso no contexto de Apocalipse 11; a João foi ordenado tirar uma vara de medição, e fora da Jerusalém literal, medir o templo e o altar e os que nele adoram. Na medição do templo e do altar, João deixa de fora o pátio do templo, e não o mede, pois ele foi dado aos gentios para ser pisado. Como poderia ainda, em fins de 90 dC, haver um altar, seus adoradores e o pátio do Templo? Veja meu artigo Contradições do Preterismo – parte IV, o ítem 3: O Templo havia sido Destruído (Ap 11:1,2) e encontre a resposta.

As Duas Testemunhas

O atropelamento da cidade por 42 meses por vezes tem sido correlacionada com a queda de Jerusalém em 70 dC. No entanto, um olhar mais atento observa claramente que os acontecimentos não correspondem aos detalhes. E nada do que sabemos sobre a queda de Jerusalém corresponde exatamente ao das duas testemunhas. Em vez disso, 11:1-14 mostram uma representação geral visionária do testemunho da Igreja e da preservação de Deus e reivindicação das testemunhas.

Alguns intérpretes acham que as testemunhas são, literalmente, dois seres humanos individuais, ou dois profetas cristãos que foram martirizados pouco antes da queda de Jerusalém, e mesmo dois profetas que devem aparecer um pouco antes da Segunda Vinda. Mas de acordo com Apocalipse como um todo, encontramos aqui uma visão simbólica do testemunho cristão. As duas testemunhas são dois candeeiros (v. 4 – candeeiros emitem luz), indicando que eles são figuras simbólicas de pé por causa do testemunho do candelabro, as igrejas de 1:20.

Outros intérpretes entendem que o templo pode representar a presença de Deus na Terra, especialmente através de seu povo. Medição significaria conhecimento e cuidado de Deus (cf. Ez. 40-41). O altar e aqueles que adoram ali representariam os verdadeiros adoradores de Deus, que são selados e protegidos (cf. 7:1-17). A destruição do pátio exterior poderia representar o ataque dos forasteiros ao povo de Deus. Alguns afirmam que o templo de Apocalipse 11:1 é o templo celestial, apesar de alguns entenderem que o templo simboliza a verdadeira igreja cristã.

Existe inúmeras interpretações para o templo de Apocalipse 11, mas poucas são convincentes.

Uma consideração sobre “O Templo e as duas Testemunhas”

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