Carta à Igreja de Éfeso

Segundo o relato de Lucas em Atos 20, quando Paulo visitou a Ásia Menor, ele “… de Mileto mandou a Éfeso, chamar os anciãos da igreja. E, logo que chegaram juntos dele, disse-lhes… Olhai pois por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (At 20:17, 18, 28). Quando Paulo falou essas palavras, Timóteo era o pastor da igreja de Éfeso (1 Tm 1:3) e provavelmente Tíquico tenha sido seu substituto (At 20:4; Ef 6:21; 2 Tm 4:12).

Essa Igreja recebeu duas cartas; uma de Paulo (epístola aos efésios), e outra de Cristo (à que está em foco). A primeira em 62 dC, a segunda depois de 96 dC que aparece em Apocalipse 2:2: “Eu sei as tuas obras e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são, e tu os achaste mentirosos”.

“… os que dizem ser apóstolos”. Está em foco neste versículo os chefes gnósticos, que tinham arrogado para si o título de apóstolos de Cristo. Paulo diz que tais “… falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo” (2 Co 11.13b). Diante dos “anciãos de Éfeso”, Paulo chamou estes de “… lobos cruéis, que não perdoarão ao rebanho” (At 20:29a), o que curiosamente é dito pelo Apóstolo que ocorreria após sua partida deste mundo. Veja o verso completo: “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho“.

Podemos inferir que a invasão dos falsos cristãos na liderança da Igreja ocorreu após a morte de Paulo. Isto significa que não ocorreu imediatamente antes de 70 dC.

A igreja de Éfeso, talvez tenha sido a de maior cuidado do ministério de Paulo; O Novo Testamento diz que Paulo esteve em Éfeso levando consigo Priscila e Áquila; e deixou-os ali (At 18.19); retornou mais tarde (19.1) e desta vez permaneceu dois anos, dedicado à pregação do Evangelho. Dessa maneira, todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra sobre o Senhor Jesus, assim judeus como gregos (At 19.10). Éfeso chegou mesmo a tornar-se o centro do mundo cristão.

Para esta Igreja, João escreve, “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres” (Apoc 2:4,5).

A situação da congregação em Éfeso ficou tão séria que o Senhor lhes pede arrependimento ou removeria deles o candeeiro – infelizmente essa ameaça de Jesus logo se tornou realidade. A igreja de Éfeso, que se encontrava onde hoje é a Turquia, desapareceu e não há praticamente mais nada que a lembre.

Quando o Apóstolo João escreveu aos Efésios?

Permita-me o leitor fazer aqui alguns cálculos para que se tenha ideia do absurdo proposto pela teologia preterista: segundo eles, o capítulo 18 de Apocalipse descreve a destruição final da cidade de Jerusalém, que eles chamam de Babilônia. Isso nos levaria a concluir que, pelo menos, os capítulos de 1 a 18 foram redigidos por um João apressado e desesperado, antes de 70 dC, lhe dando uma margem de tempo curtíssimo para entregar o aviso a todas estas congregações, bem longe da ilha de Patmos, em território romano, na Ásia Menor.

O que quero esclarecer, considerando todos estes detalhes, é que devemos trazer a escrita e termino do Livro de Apocalipse até 68 dC. Se for este o caso, temos que procurar uma data anterior para encaixar os registros às sete Igrejas da Ásia, o que nos levaria, com base na cronologia preterista, a localizar o tempo da redação dessas cartas em pelo menos seis anos antes da destruição de Jerusalém, que significa algo, no máximo, em torno de 63 dC. E mais: João não pode ter sido exilado em Patmos antes de 60 dC, pois se algumas dessas Igrejas nem existiam nessa ocasião ele não tinha que escrever-lhes cartas de advertência nenhuma. Assim, e tendo por base as datas do preterismo, João escreve sua carta aos Efésios não mais tarde que 63 dC.

Paulo viveu em Éfeso durante dois anos (Atos 19:10). Nesse tempo a igreja recebeu orientação pessoal direta das mãos do apóstolo. Éfeso era o lugar onde está registrado que Paulo fez milagres extraordinários.

A melhor evidência que temos sobre a execução de Paulo é em cerca de 67 dC, sob o reinado de Nero. A cidade de Roma teria sido queimada, e Nero, ansioso para culpar os cristãos, e assim diminuir a culpa de si mesmo, decapitou Paulo.

Se livro de Apocalipse foi escrito antes de 70 dC, a igreja de Éfeso deveria ter perdido seu primeiro amor enquanto Paulo estava vivo, ou pouco depois de sua morte. Mas o pior nisso tudo é tentar localizar João escrevendo a Éfeso antes da morte de Paulo.

Paulo escreve a Igreja em Éfeso lá pelos idos de 62, época que estava preso em Roma. Assim, somos obrigados a localizar a advertência de João aos efésios acusando-os de ter abandonado o primeiro amor, praticamente na mesma ocasião do elogio de Paulo.

Paulo testemunha pelos cristãos de Éfeso o seguinte:

“… noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor…”, cap 5:8

Não faz sentido a mesma Igreja ter recebido ao mesmo tempo uma palavra tão negativa do Apóstolo João:

Ap 2:4 Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.

Uma Igreja que havia abandonado seu primeiro amor não poderia jamais ter sido elogiada por Paulo sobre o amor que ela nutria por todos os santos, como também por sua fé, motivos estes que fazem com que o Apóstolo dê graças incessantes a Deus pelo exemplo desses cristãos.

Por isso, ouvindo eu também a fé que entre vós há no Senhor Jesus, e o vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações“. Efésios 1:15,6

Os absurdos propostos pelo preterismo são gritantes quando examinamos a condição da Igreja de Éfeso descrita pelo Apóstolo dos gentios. Ele diz que Deus “… VOS vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência”, Efe 2:1,2

Paulo declara que a igreja de Éfeso tinha ardente caridade para com “todos os santos” (cf. Ef 3.18). Paulo chegou até a convidá-los a participarem da “… largura, e a altura e a profundidade” do amor de Deus, … que excede todo o entendimento” (Ef 3.18-19). Portanto, João jamais poderia ter escrito na mesma ocasião de Paulo, afirmando que a luz que havia ali estava para ser apagada

O contraste é tão grande que até os mais desavisados e ignorantes percebem. Uma congregação que, no tempo presente da escrita do apóstolo Paulo, foi reconhecida como luz no Senhor, transbordante de amor para com os santos, sendo firme na fé e vivificada, não pode ser acusada de ter abandonado seu primeiro amor, por outro Apóstolo, praticamente na mesma época. A verdade é que esse afastamento do primeiro amor se deu num tempo anterior tão distante que Jesus pede a Igreja que se lembre de onde havia caído: “Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras, quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.”, Apocalipse 2:5

“… pratica as primeiras obras…”.

Essa advertência associada ao inicio do versículo, de que deveriam lembrar-se de onde caíram, como e quando caíram, deixa explícito que essa queda ocorreu num passado bem distante. Esse tempo distante, se calculamos tendo por base as datas do preterismo, que coloca João em Patmos por volta de 62 dC, obriga-nos a voltar, pelo menos, em 40 dC para localizar a queda da Igreja. Isso é impossível, pois nessa época não havia Igreja em Éfeso.

A advertência de Jesus para a Igreja de Éfeso só faz sentido se localizamos a escrita para anos depois de 70 dC. Em outras palavras, se os registros foram feitos quase no final do primeiro século, e se voltamos no tempo para acompanhar a Igreja no rastro de sua queda, podemos achar uma congregação que perdeu seu primeiro amor no inicio da década de 80 dC.

Quando Paulo escreveu para essa Igreja não encontrou nada a criticar. Entretanto, se João escreveu a Éfeso na mesma época, então dentro de um curto espaço de tempo a igreja tinha deixado seu primeiro amor e estava em perigo de ter sua luz apagada. Isso é uma tremenda contradição; não é possível admitir que uma Igreja elogiada por ser “Luz no Senhor” (“… noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor…” Ef 5:8), não pode, ao mesmo tempo, ser ameaçada de ter seu candeeiro removido.

A verdade é que a carta de Paulo aos Efésios não foi redigida na mesma época da escrita de João. Basta observar que os erros apontados por Cristo aos Efésios em Apocalipse não vieram a tona na epístola de Paulo. Se João tivesse escrito a Igreja na mesma ocasião, teria se sobreposto a carta de Paulo. No entanto, Paulo não faz menção à perda do primeiro amor ou a ameaça dos Nicolaítas e nem os alerta de que teriam o candeeiro removido, pelo contrário. Portanto, diante dos fatos, é muito mais provável que a moleza espiritual de que João acusa Éfeso, tenha vindo quase 20 anos depois da igreja ter recebido elogios do Apóstolo dos gentios.

Conclusão

Paulo escreve aos Efesios depois dos anos 60 d.C, pois a prisão mencionada em 3:1 e 6:20 é a mesma referida em Cl 4:3,10,18. Paulo elogia a Igreja de Éfeso em 62 pelo amor e dedicação. Portanto, João não poderia de forma alguma ter escrito a essa Igreja na mesma ocasião dizendo que ela perdeu seu primeiro amor. Para que acontecesse um esfriamento nessas proporções haveria necessidade de uns vinte anos de afastamento da fé.

O estado em que se encontravam as igrejas da Ásia, como descrito nas sete cartas de Apocalipse capítulos 2 e 3, nos leva a quase trinta anos além da condição que estavam nos tempos de Paulo, e não dos meros 2 ou 3 anos exigidos pelas datas apresentadas pelo Preterismo.

João não escreveu Apocalipse antes da destruição de Jerusalém!

A conclusão que salta diante dos olhos até dos mais ignorantes é patente: O Livro de Apocalipse, além de não tratar, em nenhuma de suas páginas, da queda de Jerusalém, foi escrito após 70 dC.

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